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Intro:

Camarada Sobrinho é palestrante, autor, cypherpunk e um dos mais inteligentes pensadores da Bolha Bitcoin BR. Com uma longa trajetória, ele tem compartilhado incansavelmente suas experiências e conhecimentos nas redes sociais. Sobrinho atua como consultor e P2P, além de manter uma comunidade pública no Telegram onde ocorrem diversos debates sobre Bitcoin.

1. Quando e como você conheceu o Bitcoin?

Ouvi falar do Bitcoin em 2012/2013 ao descobrir o que era a Deep Web. Conheci o canal do Daniel Fraga e tive a oportunidade de conversar com ele pelo Facebook. Tinha muita dificuldade em comprar o Bitcoin na época, então fiquei só na curiosidade. Em 2016 comecei a comprar, mas da pior forma possível, confiei em corretoras e caí numa série de esquemas de pirâmide. A ficha da merda que eu fiz só caiu em 2019, quando me toquei de que havia de fato perdido tudo, e ao invés de buscar aprender o que é certo, me tornei um hater do Bitcoin. Ajudei minha namorada no TCC dela (Tecnologia Blockchain: um possível meio de prova no processo civil, Gleice Roberta Gomes de Melo) e tive uma compreensão mais ampla do movimento cypherpunk em 2020. De fato caí na toca do coelho em 2021 quando li os livros “21 Lições” do Der Gigi e “Revolução Satoshi” da Wendy McElroy.

2. Qual é a função mais importante do Bitcoin?

A primeira forma que a humanidade encontrou de armazenar informação de maneira completamente incensurável.

3. E Por que Bitcoin? De verdade, sem termos técnicos.

A criação da escassez digital foi mais do que uma mera descoberta reduzida ao mundo da tecnologia. É uma manifestação clara e incrível da ordem espontânea encontrando aquilo que já era buscado desde antes dos cypherpunks. O Bitcoin é o resultado da busca por um dinheiro inconfiscável, impossível de ser controlado por uma elite, divisível, facilmente transportável e seguro. O Bitcoin é o resultado da busca por uma forma de armazenamento e aproveitamento de energia inteligente, universalmente compreensível, lógica e escalável. O Bitcoin é o resultado da busca por uma série de máquinas simultaneamente inteligentes e neutras, que utilizam os desejos humanos de competição e cooperação de maneira equilibrada para resolver conflitos de forma pacífica. O Bitcoin é o resultado da busca por um meio de armazenamento de registros que seja confiável, inalterável e publicamente verificável.

4. De que forma o Bitcoin mudou você? Quais os valores que te levaram à toca do coelho?

O Bitcoin me ajudou a enxergar as implicações de segunda e terceira ordem da manipulação da moeda, da censura, da centralização da informação e do desperdício de energia. Mais do que enxergar o óbvio e os problemas imediatos, enxerguei como os incentivos ambientais podem extrair o pior da natureza humana, e como a técnica possui implicações éticas e morais, mesmo que muitas vezes de forma inconsciente e não planejada pelo criador. O que me fez querer entender o Bitcoin foi a curiosidade. Eu já achava que conhecia tudo sobre seu funcionamento técnico e queria entender o porquê de haver surgido uma crescente legião de pessoas confiantes no seu caráter e implicações, quando tudo que eu via eram as suas limitações técnicas. O que de fato virou a minha chave, foi a compreensão da simplicidade como o mais alto grau de sofisticação. Hoje, tudo o que toca à preferência temporal no meu cotidiano foi alterado. Mais do que o clássico “economizar o máximo que posso pra comprar Bitcoin”, hoje até estou disposto a abrir mão e deixar de acumular alguns satoshis para cuidar melhor do meu futuro físico, espiritual e familiar. Basicamente, entendi as implicações da escassez, ao ponto de notar que o ativo mais escasso que existe é o tempo, me ajudando até mesmo a entender que nem sempre é necessário que eu compre Bitcoin, mas que é mais importante eu usar meu tempo naquilo que é importante e relevante. Outro aspecto relevante foi buscar entender as implicações secundárias, terciárias, quaternárias, etc., de qualquer tecnologia. Entendi que tecnologia é qualquer alteração que o ser humano faz no ambiente ao seu redor, indo além de meramente alguma técnica artificial, mas que até mesmo linguagens, artes, métodos de comunicação e organização, estruturas sociais e comportamentos são tecnologias. E não existe tecnologia neutra, por mais que ela possa aparentar possuir uma estrutura estritamente ‘metodológica’, as implicações e alterações no nosso cotidiano, o pior e o melhor que elas podem extrair de nós, pode e deve ser analisado para nos concentrarmos em aprender a se relacionar com a tecnologia de forma construtiva.

5. Quais são os Bitcoinheiros que você mais admira?

Marco Batalha, Ivan (Bitcoinheiros), Der Gigi, BitDov, Alex Gladstein, Saifedean, Wendy McElroy, Caio Leta, Diego Kolling, Fábio Silva, Émile Phaneuf, Seiiti Arata, Zezo Duarte, Lawrence, Vilson Kavanhak, AlexBit, Huberto Leal, Noor El Bawab, Korea, Marcel Pechmann, André Borges, Kanye West, Stanley Calderelli, Maria Teresa Aarão, Jimmy Song, Edilson Osório.

6. Quem é Satoshi Nakamoto?

Eu. Você. Nós. Ninguém.

7. Qual a frase sobre o Bitcoin que você mais curte?

O Bitcoin recompensa aqueles que têm síndrome do impostor e pune aqueles que têm síndrome de Dunning-Kruger.

8. Quais são os maiores obstáculos para a ampla adoção do Bitcoin? A hiperbitcoinização é inevitável?

O maior obstáculo é a capacidade que a mídia, as agências de inteligência e grupos de pressão têm de exercer engenharia social. A dificuldade que as pessoas têm para entender o Bitcoin é muitas vezes involuntária, somos bombardeadas por todo canto, a história é reescrita e estamos recheados de mentiras por todos os lados. Se as pessoas não conseguem compreender coisas mais simples e óbvias, quem dirá o Bitcoin. Portanto, não, a hiperbitcoinização não é inevitável. Se através do vício em telas, pornografia, deseducação alimentar em massa e propaganda psicológica, a maioria das pessoas se verem convencidas a se subjugarem física e moralmente ao ponto de se tornarem completas marionetes (mais do que já são), não usarão o Bitcoin. Já que elas não vão ter nada e de fato serão felizes – ou será que vão ter tudo e de fato serão infelizes? De todo modo, vejo que a escravidão futura visa um celeiro sem grades ou portas, prazeroso, orgástico, bonito, livre, atraente e hedonista, onde todos estarão cada vez mais ensimesmados e escravos dos próprios prazeres, viciados em dopamina e focados no agora. Nesse cenário, o Bitcoin não será só indesejável, será impossível.

9. Em 2140 é esperado que o último satoshi seja minerado, qual mensagem você deixaria para esse evento futuro?

“Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão.” – Salmos 19:13

10. Até onde você iria nessa jornada do Bitcoin, onde seria o seu limite?

O Bitcoin não é Deus, mas é sua criação e reflete a sua criação. Não faço nada por causa do Bitcoin, mas defendo o Bitcoin por causa do que creio ser o certo, justo e atemporalmente correto. O meu limite é a troca da criação pela criatura. Eu não compactuo com qualquer ‘bitcoin-centrismo’ que o use como lente através do qual se enxerga a realidade. O Bitcoin, sem dúvidas, pode nos ajudar a entender mais sobre a realidade, porém não consegue sustentar a complexidade de toda uma cosmovisão.

11. Você se considera um evangelizador do Bitcoin? Se sim, consideraria ser um cavalo de tróia pra espalhar a palavra?

Não, me considero alguém que está disposto a apresentar o Bitcoin para quem quer conhecê-lo. Não seria um cavalo de Tróia já que creio que meu tempo pode ser melhor empregado de outras formas. Existem pessoas que são chamadas especificamente para isso, não creio ser o meu caso.

12. Qual a relevância dos movimentos adjacentes do Bitcoin?

Todos esses movimentos são de pessoas em busca da verdade. São compostos por indivíduos de diversas origens ideológicas e sociais, convergem em determinados pontos e possuem divergências internas. Mesmo entre os carnívoros há aqueles que só comem boi, os que não comem ovo de jeito nenhum, os que só comem carne crua, e por aí vai escalando. Esses movimentos refletem a natureza humana e são normais. Muitos deles saíram de dentro do movimento bitcoinheiro e trouxeram influências externas, entenderam implicações diretas ou se juntaram de maneira convergente/interseccional.

13. Como TANKAR o mundo FIAT após entender o Bitcoin?

Estude sobre a fé cristã histórica e se ancore numa esperança atemporal. “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices.” – Salmos 19:7

14. A quem você daria a Pílula Laranja?

A todos aqueles dispostos a lutar pelo bem do seu próximo e se engajar de maneira sincera e desapegada na busca pela verdade.

15. Quais são os meios mais práticos para se educar sobre Bitcoin?

YouTube: Canal Bitcoinheiros, Planeta Bitcoin, Area Bitcoin, Tiago Salém. Livros: 21 Lições – Der Gigi, O Mundo Mágico do Bitcoin – Caio Leta, Cypherpunks: Liberdade e o Futuro da Internet – Julian Assange. Comunidades: Bloco (Edilson Osório), NodeRunners Brasil (Diego Kolling), Bolha Bitcoinheira do Twitter (Intankáveis, Jeff, etc.), The Bitcoin Discord (mas é pra discordar mesmo, não se amolde ao CONCORD não) e Comunidade @sobrinhop2p no Telegram.

16. Cite pelo menos 1 livro que te influenciou sobre Bitcoin? E indique pelo menos mais 1.

“Revolução Satoshi” da Wendy McElroy da Editora Konkin é crucial para entender o Bitcoin. Indico outros livros não relacionados ao Bitcoin: “REFLITA”, de Thaddeus J. Williams, busca apresentar os diversos aspectos da natureza de Jesus Cristo que podemos espelhar em nossas vidas; “Freud”, “Política da Pornografia”, “Cristianismo e Estado”, “Fundamentos da Ordem Social”, “O Plano de Deus para Vitória”, ambos de R. J. Rushdoony, são obras essenciais para entender as bases da civilização e realidade cosmovisional em que estamos inseridos; “A Instituição da Religião Cristã”, a magnum opus de João Calvino, que abrangendo tudo relacionado à doutrina da salvação e a vida piedosa; “Calvinismo”, coleção de palestras do filosófo e pastor holandês Abraham Kuyper, dadas na virada do século XIX para o século XX, apresentando para um mundo materialista e secularizado uma alternativa de cosmovisão baseada no cristianismo.

17. Qual o projeto social mais interessante que você conhece sobre Bitcoin?

Há muitos aspectos interessantes no Praia Bitcoin em Jericoacoara, apesar de faltar capital humano competente em soft-skills.

18. Você investiria no Legacy (Renda Fixa ou Variável) ou shitcoins, para posteriormente acumular mais Bitcoin?

Não. Mesmo que possa fazer sentido econômico e talvez até ético, não faz sentido moral.

19. Sobre El Salvador, você é Bullish ou Bearish? Por que?

Já fui bullish e depois fiquei bearish, mas agora sou completamente neutro. Quero assistir o que vai rolar, torcer pelo melhor e analisar com criticismo.

20. Quando você teve 100% de certeza que o Bitcoin seria algo que mudaria a história da humanidade?

Quando eu percebi que ele é a primeira vez que a humanidade descobriu o dinheiro. Quando eu vi que o problema do dinheiro é um dos principais problemas causadores de guerra. Quando eu entendi que o dinheiro é um modulador ambiental que traz à tona aquilo que está dentro de nós das melhores ou piores formas. Quando eu notei que é através do avanço energético e da escala de Kardashev que conseguiremos exercer o mandato cultural de Gênesis 1 de forma mais otimizada.

21. Qual sua opinião sobre os Bitcoinheiros que viraram a casaca para o mundo Cripto? Qual a shitcoin que você mais odeia? Qual o detrator do Bitcoin que você gostaria de mandar tomar naquele lugar?

Na maior parte das vezes, é oportunismo, colocar o lucro acima da moral. Em raras exceções, há pessoas que viraram a casaca por questões estritamente éticas e/ou técnicas. Quanto a esses não tenho muito o que dizer. Há shitcoinheiros com grande conhecimento técnico (Vini Barbosa) e com forte apelo ético (Carl Amorim), e através deles eu aprendo novas formas de fazer uma apologia saudável ao Bitcoin. A shitcoin que mais odeio é a Monero, já que ela é extremamente sedutora por se aproximar muito do éthos cypherpunk. Ela é o portal para o inferno que fica na entrada do céu. Os piores detratores são todos os farialimers engraçadinhos que juram que seu mundo fiat construído sobre a areia é firme como a rocha. Estes transformam a mentira em verdade e inculcando-se sábios, tornaram-se loucos. São o reflexo do que o apóstolo Paulo escreve aos Romanos: “E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” – Romanos 1:28-32